Depois de um enorme sucesso de público no CCBB Brasília em 2022, a mostra Mundo Zira – Ziraldo Interativo segue sua itinerância ocupando o CCBB-RJ. Até 13 de maio de 2024 o público poderá fazer um mergulho na rica obra infanto-juvenil do escritor, interagindo com personagens que fazem parte do imaginário infantil de diferentes gerações, como Menino Maluquinho, Turma do Pererê e Menino Quadradinho.
Com direção artística e curadoria das diretoras do Instituto Ziraldo Adriana Lins e Daniela Thomas, sobrinha e filha do artista respectivamente, Mundo Zira faz um tributo à altura da trajetória multifacetada do quadrinista, multiartista e autor. A palavra-chave da exposição é a cocriação. As curadoras propuseram um percurso que instigasse o público a personalizar a arte de Ziraldo, adicionando seu toque individual às composições digitais em painéis de LED, por exemplo. “Temos muita intimidade com esse acervo. Conseguimos fazer esse pensamento criativo de uma forma muito orgânica, sem nem perceber o que que vem antes: é a curadoria ou a forma desse percurso narrativo?”, explicam, em entrevista à Bravo!.
Destaque para duas áreas inéditas que enriquecem ainda mais a visita lúdica: um mini estúdio, onde os visitantes têm a chance de se verem dentro dos desenhos do cartunista, e um caça palavras cromático para formar frases emblemáticas do escritor. A expectativa é que o público ultrapasse os 150 mil visitantes. “Acho que a experiência de se ver dentro de um desenho do Ziraldo e a oportunidade de brincar de pega-pega com os personagens da Mata do Fundão são os dois maiores sucessos da mostra até agora”, contaram as diretoras.
À Bravo!, Adriana Lins e Daniela Thomas discorrem sobre os bastidores da exposição e também sobre como trabalham para preservar a obra de Ziraldo para estas e futuras gerações.
Gostaria de começar pelo processo curatorial. Como foi essa pesquisa e seleção diante de uma obra tão vasta?
Então, selecionar a obra do Ziraldo, fazer escolhas é sempre um desafio. Mas a exposição Mundo Zira tem uma característica muito agradável, na verdade, que é a curadoria e a direção de arte trabalhando de forma integrada desde o inicio. Quando a gente imaginou o que podia funcionar dentro de uma interatividade, o que podia funcionar no campo sensorial, a gente já foi pensando junto nas obras, no conteúdo de cada obra, o tipo da ilustração. Então com essas questões em mente a gente conseguiu ir eliminando e fazendo esse funil. Numa coleção literária de 200 títulos, por exemplo, a gente fez um recorte e selecionou oito! Então é isso, essa dobradinha com a cenografia, vendo o que funciona na estética, o que funciona na linguagem, na brincadeira de colocar o visitante atuante. Tudo isso foi nos ajudando a chegar nos critérios da curadoria.
Nesse caso, como somos as diretoras do Instituto Ziraldo, temos muita intimidade com esse acervo. E como atuamos também na direção de arte da exposição, juntamente com o Guto Lins, e na cenografia juntamente com a Susana Lacevitz, conseguimos fazer esse pensamento criativo de uma forma muito orgânica, sem nem perceber o que que vem antes: é a curadoria ou a forma desse percurso narrativo? Claro que o tamanho do espaço é um ponto de partida para definirmos a quantidade de obras selecionadas.
Quais são os desafios de fazer uma mostra imersiva em 2024, um formato tão explorado atualmente?
Na exposição Mundo Zira, precisávamos desenvolver atividades com esse espírito, esse pensamento, essa atitude dentro de uma abordagem tecnológica interativa. O desafio com a ferramenta tecnológica continuou o mesmo: como imprimimos o DNA do Ziraldo nas atividades pensando em um visitante crítico, atuante, perspicaz que se sinta estimulado a interagir e participar e que fique feliz.
Tem algum item raro, que está sendo exposto para o público pela primeira vez nessa mostra? Se sim, qual?
Acho que a experiência de se ver dentro de um desenho do Ziraldo e a oportunidade de brincar de pega-pega com os personagens da Mata do Fundão são os dois maiores sucessos da mostra. Pelo menos até agora! Mas como a expectativa da temporada carioca é de 150 mil visitantes, vamos ter que aguardar pra saber.
A mostra Mundo Zira foi vista por 65 mil pessoas em Brasília. Qual é a expectativa para o Rio? E qual é a obra ou sala de maior sucesso até agora?
Com esses poucos dias de exposição aqui no Rio, já pudemos perceber, com muita alegria, que atingimos nosso objetivo principal: públicos de todas as idades entram na exposição e se transportam no tempo e no espaço!
Sabemos que Ziraldo está com a saúde debilitada. Ele participou do projeto palpitando de alguma maneira, mesmo que a distância? Como você avalia o legado de Ziraldo para as diferentes gerações?
De 2019 pra cá, depois que Ziraldo teve o AVC, sua saúde foi ficando frágil, mais delicada. Ele parou de frequentar o estúdio, e foi nesse mesmo período que eu e Daniela percebemos o tamanho do legado que estava ali naquelas gavetas começando a se perder, a amarelar, a mofar. Memória cultural de sete décadas de trabalho. Então começamos a organizar de forma quase museológica mesmo, de uma maneira mais sistematizada, aquelas gavetas com milhões de trabalhos de comunicação, de arte, de literatura, de pensamento crítico, social e político que falam da identidade de diversas gerações de brasileiros.
E com Ziraldo cada vez trabalhando menos, costumamos dizer que foi saindo o artista e se instaurando a instituição. E nossa proposta é difundir sua obra inspiradora em todo o Brasil. Essa não é uma exposição de obras originais e sim uma imersão do visitante dentro do universo imagético das obras do Ziraldo. É realmente uma exposição sensorial e interativa.
Na verdade, a época do projeto não faz muita diferença porque a gente tem, no instituto, um desafio constante que é estar afinado com pensamento do Ziraldo: como é que ele faria nessa situação? Ou seja, a gente respeita a criatividade dele, o jeito dele, a maneira como ele reagia às demandas.
Por exemplo, quando chegou pra ele em 1969 o pedido de um livro infantil, um livro infantil todo colorido (se ele tinha o esboço de algo assim e ele falou que tinha mas na verdade ainda não tinha e fez em um fim de semana… rsrs) ele conversou com a criança leitora daquele livro de igual pra igual, trazendo inquietações pertinentes a ele, um adulto, com questões atávicas da vida. Então essa forma verdadeira e clara da sua comunicação, instigando o pensamento, a criatividade, as sensibilidade, o sentimento, e, além de tudo, despertando o afeto, a curadoria do IZ traz como bandeira.