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Guia para a SP-Arte, maior feira da América Latina

Nossa reportagem reuniu um roteiro completo com as galerias imperdíveis desta edição comemorativa de 20 anos

Por Humberto Maruchel e Laís Franklin
Atualizado em 5 abr 2024, 18h44 - Publicado em 4 abr 2024, 09h00

A SP-Arte, uma das principais plataformas de arte contemporânea, deu início a mais uma edição na capital paulista. O ano de 2024 marca o 20º aniversário da maior feira de arte da América Latina — e uma das mais importantes do Sul Global. Durante cinco dias, de 3 a 7 de abril, o evento ocupa o primeiro e segundo andares do Pavilhão da Bienal de São Paulo, no Parque Ibirapuera. Ao todo, mais de 190 expositores estarão presentes, incluindo galerias de arte, de design, editoras e organizações culturais, como MAM, MASP, Instituto Inhotim e IAC. Um enorme avanço desde a primeira edição, em 2005, que contou com 40 galerias.

Thaís Darzé, que esteve presente em 19 das 20 edições, acompanhou de perto esta evolução. “É impressionante ver a capacidade que uma feira tem de movimentar o mercado, o sistema, a cena cultural; enfim, serve como um palco para onde tudo funciona. Então você vê que, apesar de ser um evento comercial, ele atinge muitas esferas e muitas camadas do sistema das artes, da cultura como um todo”, comenta a diretora da galeria Paulo Darzé e curadora responsável pela mostra individual de J. Cunha que, somente no primeiro dia de SP-Arte, já vendeu 30% do acervo. 

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J Cunha – Movimentos e Afloramentos (galeria Paulo Darzé/divulgação)

Fundada pela colecionadora e empreendedora Fernanda Feitosa, a mostra ajudou a impulsionar o mercado de arte, ao fomentar encontros entre galeristas e compradores. Nestes 20 anos, a realidade se transformou e o circuito de arte em São Paulo se expandiu de forma impressionante.

A SP-Arte se consolidou como um espaço fundamental para o intercâmbio entre artistas nacionais e estrangeiros, oferecendo visibilidade a criadores de diversas regiões, para além do tradicional eixo RJ-SP, e proporcionando novas perspectivas sobre a realidade. Além disso, contribuiu para aumentar a presença brasileira no circuito internacional de arte. Visando este intercâmbio, a HOA Galeria mudou seu projeto no início de 2024 e, ao invés da representação, migrou para uma parceria colaborativa com artistas. “Esse estande é bem um lugar de retomada da HOA, que passou por muitas mudanças recentes. Fiz essa curadoria pensando muito no novo formato de não representação e trouxe artistas que já trabalhávamos como Rafaela Kennedy, Labô Young e Mariana Rocha. As novidades de parcerias são Mika Takahashi e Samuel de Saboia. A seleção foi pensada nos novos fluxos que buscamos seguir, apresentando artistas e suas pesquisas”, comenta a diretora artística e curadora Micaela Cyrino.

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(Galeria La Balsa/divulgação)

A feira traz também algumas novidades, com galerias estreantes. Entre elas, La Balsa (Bogotá e Medellín, Colômbia), Salar (La Paz, Bolívia), Papai Contemporary (Oslo, Noruega), RGR (Cidade do México, México), Ricardo Fernandes (Paris, França) e a brasileira Nonada (Rio de Janeiro, Brasil), que aproveitou a ocasião para inaugurar sua primeira sede na capital paulista. Na SP-Arte, eles optaram por apresentar trabalhos históricos de Humberto Espíndola, produzidos desde 1968 até agora. O artista foi um dos precursores da “Geração 80” e seu trabalho é referência obrigatória para todos aqueles que se dedicam a compreender o processo estético brasileiro em toda a sua diversidade e complexidade.

“Ele foi um pioneiro no instigante diálogo entre a arte pop internacional e as referências regionalistas. Ainda nos anos 1970 o artista já criava pinturas de forte impacto visual, a “bovino cultura”, que trazia para o cenário artístico brasileiro um repertório de imagens e lendas oriundas de um Mato Grosso profundo e desconhecido, selvagem e sertão. Ao longo de meio século de produção ininterrupta a obra de Espíndola, de forte apelo gráfico, deriva para uma pesquisa pictórica sofisticada na qual a terra e o cosmos se mesclam”, aponta a sócia Carol Carreteiro

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Adriana Varejão, azuleijão – 2018 (Galeria Almeida e Dale/divulgação)

Entre as veteranas que estão presente na mostra desde a sua fundação, fica o destaque para os stands da Almeida & Dale (São Paulo), da Anita Schwartz (Rio de Janeiro), da Manoel Macedo Galeria (Minas Gerais), da Simões de Assis (Paraná), da Galleria Continua (São Paulo) e da Paulo Darzé (Salvador). E de fora do país, a Galería Sur (Punta del Este, Uruguai).

Bravo! passou um dia inteiro circulando pela SP-Arte e criou um guia para te ajudar durante a visita.

Mostras individuais que merecem atenção

J. Cunha na Paulo Darzé (C2)
Boa oportunidade de apreciar cerca de 50 pinturas e objetos, a maioria inéditos, de uma das maiores referências vivas da arte baiana. A partir de 4 de maio, J. Cunha também estará em cartaz na Pinacoteca com a maior exposição monográfica de sua carreira. 

“Comecei a trabalhar nesta obra em fevereiro, logo após assistir ao desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, por convite de um grupo chamado Soma. O impacto que experimentei foi imenso. Busquei refletir sobre essa experiência de forma bastante singular, explorando o universo da escola de samba de maneira subjetiva”, declara o artista J. Cunha.

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J Cunha- caminhos espirituais (galeria Paulo Darzé/divulgação)

J. Borges na +55 Design (DS16)
Série única de 8 móveis desenhados por Bruno de Carvalho com matrizes esculpidas pelo maior cordelista e xilogravurista que está em em atividade no Brasil há quase 70 anos. Cada móvel é uma reinterpretação de uma história clássica da literatura de cordel. O artista passou seis meses para produzir a coleção. Entre elas, há uma obra especial criada para a SP-Arte, inspirada no carnaval carioca.

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Comecei a gravura ilustrando cordel sem ninguém me ensinar porque eu precisei. O cordel com capa só com letra não vende. Falo do amor, da política, da religião e da vida social do povo do Nordeste, mas foi Ariano Suassuna quem me contou que eu era artista e empreendedor. Ele disse que eu era o melhor e o povo acreditou. Esse trabalho é diferente de tudo o que eu fiz e estou maravilhado com o ambiente”, contou J. Borges. 

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(+55 Design/divulgação)

Ian Nes na Galeria Asfalto (F15)
Uma seleção arrebatadora de pinturas inéditas do jovem artista visual e muralista fluminense. A galeria Asfalto ainda é jovem, com apenas dois anos. No entanto, já participou de algumas mostras importantes de arte, como a Rotas Brasileiras e a SP-Arte. Ela é primeira galeria comercial da Zona Norte do Rio de Janeiro, na Vila Isabel.

“Rio de Janeiro é uma cidade complexa. Sou da Zona Norte e estudei Artes. Existia todo um deslocamento que era preciso fazer para chegar a esse propósito. Não era um deslocamento só geográfico, mas também uma construção subjetiva. Quando você saía da periferia do centro para a zona sul, mais do que o ônibus que você pegava, você fazia todo um deslocamento dentro de você, porque você chegava naquele lugar e não pertencia. Então, criar uma galeria faz parte desse desejo de tentar articular um lugar onde possamos pertencer”, conta Nico Dantas Rocha, um dos fundadores da galeria, ao lado de Larissa Amorim.

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IANNES,A Coragem vigiada na terra do sal 2024, óleo sobre tela (Galeria Asfalto/divulgação)

Nomes consagrados das artes em cartaz na feira

Inox + Radiante (D4)
Direto do Rio de Janeiro, a Inox foi fundada pelos irmãos Guilherme e Gustavo Carneiro. A galeria mescla diversas linguagens, da pintura à street art. Entre os artistas representados estão Artur Barrio, Brendon Reis, Felippe Sabino, Jefferson Medeiros, Jorge dos Anjos e Jorge Mayet, além de Lívia Moura. Um dos maiores destaques do stand são as pinturas de Brendon Reis, um artista autodidata de Salvador.

“Na pintura, busco apresentar um conceito que brinca com o surrealismo e o naturalismo. As figuras que retrato geralmente são negras ou racializadas, e são representadas em tons de azul. Esse azul, que é o azul ultramar, confere uma profundidade à pele que pode evocar tanto uma sensação de frieza quanto vibrar com intensidade, dependendo da tonalidade utilizada. Gosto de explorar essa dualidade. Além disso, abordo questões de identidade e sexualidade, pois como um homem queer, busco representar minha própria vivência através da arte”, conta o artista Brendon Reis.

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(Inox/divulgação)

Portas Vilaseca Galeria (D11)
Criada em 2012 por Jaime Portas Vilaseca, a Galeria carioca acolhe obras de 24 artistas de todo o Brasil. Há 10 anos, ocupam espaço na SP-Arte. “Esse ano é pensado em recortes curatoriais que transitam por diferentes temáticas, que vão desde a arte da diáspora atlântica, passando por questões de ancestralidade, geometrias, apropriações, memórias, esquecimento, pintura figurativa contemporânea, esculturas, fotografia expandida. Cobrimos várias nuances da produção artística contemporânea”, explica o diretor de relações institucionais de comunicação da Portas Vilaseca. Alguns dos destaques deste ano são as obras de Ayrson Heráclito e Nádia Taquary.

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Ayrson Heraclito – Bori Tempo 2008-2011 (Portas Vilasecas galeria/divulgação)

Galleria Continua (E2)
Fundada em 1990 por Mario Cristiani, Lorenzo Fiaschi e Maurizio Rigillo, a galeria italiana chegou ao país em 2020. Uma das peças mais importantes é “Two Less One”, de Michelangelo Pistoletto, um dos principais nomes do movimento Arte Povera. O jovem artista brasileiro Yhuri Cruz também também marcou presença com diversas obras, como a série “Criptas”.

“Meu trabalho lida principalmente com as histórias da diáspora negra no mundo. Sou um artista visual e dramaturgo, e tenho um grande interesse pela história e pelo drama. Gosto de explorar diferentes perspectivas e oferecer novas abordagens aos dramas humanos, indo além do contexto colonial. Embora o drama da negritude seja importante, procuro ampliar o entendimento para além do drama histórico brasileiro e busco novos horizontes de expressão”, declara o artista Yhuri Cruz.

 

Raquel Arnaud (F1)
Uma seleção de obras que compõe a mostra comemorativa dos 50 anos de galeria poderá ser vista durante a feira. Destaque especial para Iole de Freitas e Felipe Pantone. No sábado, a artista Georgia Kyriakakis apresentará seu novo múltiplo em um evento aberto ao público. 

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PACTO IMPACTO, da Geórgia Kyriakakis (Raquel Arnaud/divulgação)

Galería Sur (A5)
Fundada em 1985, no Uruguai, sua é especialidade em arte pós-guerra, concreta, abstrata, cinética e pop com foco em artistas do Uruguai, Argentina e do Brasil. A galeria apresenta pela primeira vez obras renomadas de Joaquín Torres García, Adriana Varejão, José Gamarra e o artista Ianomami Sheroanawe Hakihhiiwe.

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jose gamarra – La chasse 1997 (Galeria Sur/divulgação)

Esquenta para a Bienal de Veneza, que começa dia 20 de abril

Carmo Johnson Projects (F12)
O stand reúne obras de Kássia Borges, Kaya Agar e Naine Terena, do MAHKU – Movimento dos Artistas da etinia Huni Kuin, oriundo da fronteira entre Brasil e Peru. Para a Bienal de Veneza, o coletivo pintará um mural na fachada do Pavilhão Central do Giardini.

Kaya Agari
Kaya Agari “#5 Grafismos variados”, 2023
158 × 110 cm (62.2″ × 43.31″)
Pintura: Pigmentos naturais variados (Urucum, Jenipapo, Açafrão, Imbirici) sobre tela. (Carmo Johnson Projects/divulgação)

Luisa Strina (E3)
A galeria apresenta um conjunto de obras recentes de alguns dos principais expoentes da arte contemporânea brasileira. Anna Maria Maiolino, vencedora do Leão de Ouro desta edição da Bienal de Veneza, é uma das artistas em destaque.

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(Luisa Strina/divulgação)
SP–Arte

de 3 a 7 abril 2024
Pavilhão da Bienal / Parque Ibirapuera, portão 3
04 e 05 abril das 13h às 20h; 06 e 07 abril das 11h às 19h
Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia-entrada)

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