“Vivemos num mundo dividido, em que as possibilidades são mais viáveis para uns do que para outros, e todas essas diferenças são impactadas pelo racismo e pelo racismo ambiental, pela intolerância, pela misoginia e pela LGBTfobia, que reverberam em modos de produção artística que lidam com outras temporalidades”, nos contou o Hélio Menezes, em entrevista recente sobre a curadoria da 35ª Bienal de São Paulo – Coreografias do Impossível.
É com sede de mudança que o antropólogo, crítico e pesquisador assume o cargo da direção artística do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, instituição localizada dentro do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Em comunicado oficial, ele reforçou o objetivo de trazer um olhar mais contemporâneo para a programação e acervo do museu para “promover maior abertura dos canais de comunicação à sociedade, em especial aos artistas, pesquisadores, educadores e intelectuaisafro-brasileiros, da África e suas diásporas”, destaca Hélio Menezes.
A chegada do profissional vem no mesmo ano em que o museu completa duas décadas de existência. “A trajetória brilhante de Hélio, aliada ao seu olhar sensível e apurado, não só enriquecerá, ainda mais, as atividades e as iniciativas do Museu, como irá abrir um diálogo autêntico e profundo com a comunidade”, ressaltou Marília Marton, secretária da pasta de Cultura em comunicado oficial.
A trajetória de Hélio Menezes nas artes plásticas
Natural de Salvador-BA, Hélio Menezes tem graduação dupla de Relações Internacionais e Ciências Sociais pela USP, é mestre e doutorando em Antropologia Social pela mesma universidade. Sua pesquisa envolve a pluralidade de linguagens artísticas na cultura visual brasileira e diaspórica contemporâneas. Foi responsável por algumas das melhores coletivas do país como Histórias Afro-Atlânticas, no Masp e no Tomie Ohtake, em 2018.
Eleito em 2021 como uma das 100 pessoas mais importantes do mundo da arte contemporânea pela revista ArtReview, Menezes atuou como curador de Arte Contemporânea do Centro Cultural São Paulo (2020-21), onde também foi curador de Literatura (2019).
Seus textos se encontram em publicações diversas, como os catálogos das exposições Histórias Afro-Atlânticas (vol. 1 e 2); 10th Berlin Bienalle for Contemporary Art; Rubem Valentim: construções atlânticas (MASP); Prison to prison: an intimate story between two architectures (Bienal de Veneza), entre outros.
Entre seus trabalhos mais recentes, destacam-se Nova República (2019), em parceria com Wolff Architects (Cidade do Cabo) para a 12a Bienal de Arquitetura de SP; a curadoria das exposições Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros (Instituto Moreira Sales, 2021); Atravessar a Grande Noite sem Acender a Luz (CCSP); Abre-Caminhos (CCSP, 2020); 30a e 31a edições do Programa de Exposições do CCSP (2020/2021); Há luz atrás dos muros (exposição permanente do Museu de Arte Osório Cesar, Franco da Rocha); Vozes contra o racismo (São Paulo, 2020); The discovery of what it means to be Brazilian (Mariane Ibrahim Gallery, Chicago, 2020) e Eu não sou uma mulher? (Instituto Tomie Ohtake, 2018).
Sobre o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
Inaugurado em 2004 a partir da coleção de seu fundador, o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerido em parceria com a Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura. Situado no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no Parque Ibirapuera, o museu possui mais de 8 mil obras em um espaço de 12 mil m², e destaca a inventividade e ousadia de artistas brasileiros e internacionais desde o século XVIII até a contemporaneidade, explorando temas como religião, trabalho, arte e escravidão, registrando a influência africana na construção da sociedade brasileira.