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MAM São Paulo: Uma visita, cinco exposições

O museu, que comemora 75 anos, está ocupado por mostras inéditas que envolvem desenho, pintura e instalações

Por Beatriz Lourenço
Atualizado em 8 mar 2023, 11h42 - Publicado em 8 mar 2023, 11h41

O Museu de Arte Moderna de São Paulo abre o mês de março com cinco exposições. O público pode visitar todos os cantos do museu: desde a Sala Milú Villela até a Biblioteca Paulo Mendes de Almeida. No ano em que comemora 75 anos, as mostras reúnem nomes importantes para a instituição e recortes do próprio acervo – como é o caso de Diálogos com cor e luz.

“É muito importante o museu olhar para sua coleção. Vamos fazer ao longo de 2023”, reflete o curador-chefe Cauê Alves. “Para além disso, também temos vontade de mostrar artistas brasileiros e internacionais – evidenciando a diversidade de artistas que tem nos acompanhado de tempos para cá.”

Uma das respostas sintetizadas e escritas por Ana Teixeira em cartazes.
Cala a boca já morreu, Ana Teixeira (MAM/divulgação)

Temáticas que envolvem a sociedade atual chegam no Projeto Parede e na Sala de Vidro. Na primeira, a artista Ana Teixeira faz uma crítica ao patriarcado e aborda a luta feminina por igualdade. Já na segunda, Shirley Paes Leme aponta os males da poluição humana ao meio ambiente.

Ianelli 100 anos: o artista essencial

Instalação
Vista da exposição “Ianelli 100 anos – o artista essencial”, no MAM São Paulo (Estúdio em Obra/arquivo)

Quem passa pela Sala Milú Villela, acompanha uma série de obras resultantes do estudo de luz e cor do artista Arcangelo Ianelli. Com curadoria de Denise Mattar, este é um panorama de sua trajetória. Figura assídua desde o início da história do museu, o artista teve sua primeira exposição individual na instituição em 1961 e, a partir de 1969, participou de seis edições do Panorama de Pintura, sendo premiado em 1973.

Obra de arte.
Arcangelo Ianelli, Sinfonia em branco, 1973. Têmpera sobre tela. Acervo Museu de Arte Moderna de São Paulo; Panorama 1973, 1973 (Sérgio Guerini/arquivo)

A exposição apresenta ao público pinturas e esculturas de Ianelli organizadas em oito núcleos de forma dinâmica, e não cronológica. A mostra traz, ainda, a intimidade do ateliê do artista por meio de três dioramas com objetos usados ao longo de sua vida, como pincéis, cavaletes, pigmentos, livros referenciais, entre outras peças que compunham o seu ambiente de trabalho.

“Os artistas brasileiros geralmente começam com o figurativo e vão caminhando para a abstração. Mas ele chegou num grau de radicalidade a fim de buscar a essência desses elementos”, diz Cauê Alves. “Essa é uma exposição que afeta nossos sentidos.”

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Instalação.
Vista da exposição “Ianelli 100 anos – o artista essencial”, no MAM São Paulo. (Estúdio em Obra/arquivo)
Ianelli 100 anos: o artista essencial

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/no – Portões 1 e 3)
14 de maio de 2023
De terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25 (inteira) e R$12,50 (meia-entrada). Aos domingos, a entrada é gratuita e o
visitante pode contribuir com o valor que quiser

 

Obra de arte.
Maria Leontina (São Paulo, SP, 1917 — Rio de Janeiro, RJ, 1984) – Título: Pintura, 1967 Acrílica sobre tela 150,7 x 150,1 cm – Doação da artista, 1969. (MAM/divulgação)

Diálogos com cor e luz

Na Sala Paulo Figueiredo, há a grande mostra Diálogos com cor e luz, com curadoria de Cauê Alves e Fábio Magalhães. Este é um recorte da arte abstrata da coleção do museu, com foco nas relações entre cor e luz na pintura brasileira da segunda metade do século 20. Aqui, a cor e a luz se transformam em expressões autônomas, com valores em si mesmas, e não como algo que busca representar ou estabelecer relações com o mundo real. Obras de artistas como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Lygia Clark, Thomaz Ianelli e Tomie Ohtake estão presentes.

Obra de arte.
Tomie Ohtake (Kyoto, Japão, 1913 – São Paulo, SP, 2015) Sem título, 1996 acrílica sobre tela coleção MAM São Paulo doação anônima, 1999 (MAM/divulgação)

“A cor é mais do que uma forma delimitada no mundo físico, ela está sempre se reconfigurando ou renascendo”, reflete Cauê. “Numa época em que os discursos e as narrativas estão entranhados no interior da produção artística e as cores parecem estar dominadas por sentidos objetivos que a determinam tanto política quanto simbolicamente, reafirmar sua autonomia pode ampliar as possibilidades de compreensão da arte.”

Obra de arte.
Lothar Charoux (Viena, Áustria, 1912 – São Paulo, SP, 1987) Círculos V, 1971 guache e acrílica sobre papel colado sobre madeira. (MAM/divulgação)
Diálogos com cor e luz

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/no – Portões 1 e 3)
28 de maio de 2023
De terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25 (inteira) e R$12,50 (meia-entrada). Aos domingos, a entrada é gratuita e o
visitante pode contribuir com o valor que quiser

 

Nosso mundo

A Sala de Vidro da instituição recebe um trabalho inédito da artista Shirley Paes Leme. A instalação site-specific dialoga com o entorno do museu e, ao mesmo tempo, instiga o público a pensar sobre as condições climáticas. A obra é composta por mais de mil filtros usados de ar-condicionado de carro e alumínio reflexivo. Enquanto os filtros formam na parede da sala um skyline da cidade, com aspecto turvo e fora de foco, o chão espelhado irá refletir a paisagem e a arquitetura do Parque Ibirapuera.

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Projeto da instalação.
Mockup do projeto da instalação – Site Specific Nosso Mundo (2022-2023), da artista Shirley Paes Leme, para Sala de Vidro do MAM São Paulo (Shirley Paes Leme/arquivo)

A artista explica que esse caráter espelhado do chão torna a Sala de Vidro um lugar confuso, pois o público não sabe muito bem o que está por vir, já que tudo em volta ficará dentro do mesmo espaço. E essa é sua provocação. Os filtros de ar-condicionado que constroem o skyline na obra são todos usados, com o aspecto escuro da “marca da fumaça”, como a artista chama, tendo em vista que o ar poluído da cidade passou por dentro deles.

“Shirley Paes Leme, além de chamar atenção para questões ambientais, torna visível a qualidade do ar que respiramos. Em sua composição com filtros de ar-condicionado que representam prédios, ela revela a densa atmosfera que nos circunda, tomada por fuligem e substâncias nocivas à saúde”, afirma Cauê.

Nosso mundo, de Shirley Paes Leme

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/no – Portões 1 e 3)
28 de maio de 2023
De terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25 (inteira) e R$12,50 (meia-entrada). Aos domingos, a entrada é gratuita e o
visitante pode contribuir com o valor que quiser

Cala a boca já morreu

O Projeto Parede, que ocupa a parede do corredor que liga a recepção à Sala Milú Villela, está ocupado pela obra Cala a boca já morreu, da artista Ana Teixeira. A ação é fruto de um exercício de escuta que envolveu 101 mulheres, que responderam à pergunta: “O que você não quer mais calar?”.

Fotografia do livro fruto de um exercício de escuta que envolveu 101 mulheres, que responderam à pergunta: “O que você não quer mais calar?”
Projeto Parede, Ana Teixeira (MAM/divulgação)

As respostas são sintetizadas e escritas por Ana em cartazes. A seguir, as participantes são fotografadas segurando essas frases para que depois possam ser desenhadas, à caneta ou em adesivo em vinil, em paredes de espaços expositivos. A versão apresentada no MAM conta com a representação de 18 mulheres, além da gravação das 101 frases feitas por mulheres cis, mulheres trans e travestis. “O trabalho pode ser compreendido como uma reafirmação da liberdade das mulheres e uma crítica ao patriarcado”, afirma Cauê.

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Mulheres colaboram para o trabalho
Cala a boca já morreu, Ana Teixeira (MAM/divulgação)
Cala a boca já morreu

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/no – Portões 1 e 3)
28 de maio de 2023
De terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25 (inteira) e R$12,50 (meia-entrada). Aos domingos, a entrada é gratuita e o
visitante pode contribuir com o valor que quiser

A biblioteca de Aracy Amaral: referências e exposições

Com curadoria de Gabriela Gotoda, assistente pesquisa do museu, e Pedro Nery, museólogo do MAM, a mostra aborda a relação histórica da crítica e curadora Aracy Amaral com a instituição, representada através de publicações e cartazes das exposições realizadas por ela na instituição ao longo de cinco décadas.

Prateleiras na Biblioteca do MAM com a coleção de livros doada por Aracy Amaral
Prateleiras na Biblioteca do MAM com a coleção de livros doada por Aracy Amaral (MAM/divulgação)

O ponto de partida é a doação de mais de 700 volumes da sua biblioteca particular para o acervo, onde a exposição será sediada. “Para o MAM, que completa 75 anos, é uma honra receber esses livros. Além disso, é um grande privilégio para nós ter uma historiadora, crítica e curadora tão relevante com uma participação ativa na história da instituição”, afirma Cauê.

A biblioteca de Aracy Amaral: referências e exposições

MAM São Paulo
Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/no – Portões 1 e 3)
28 de maio de 2023
De terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Ingressos: R$25 (inteira) e R$12,50 (meia-entrada). Aos domingos, a entrada é gratuita e o
visitante pode contribuir com o valor que quiser

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