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Museu Oscar Niemeyer aposta na acessibilidade para ampliar o público

Diretora do museu, Juliana Vosnika, fala sobre ampliação do acervo, democratização da arte e novas tecnologias

Por Beatriz Lourenço
25 abr 2024, 09h00
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obra de Joana Vasconcelos no Museu Oscar niemeyer (Marcello Kawase/ MON/divulgação)
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O Museu Oscar Niemeyer (MON), também conhecido popularmente como “Museu do Olho”, é um dos cartões postais de Curitiba. O edifício, que leva o nome do arquiteto que o projetou, é imponente (são 35 mil metros quadrados de área construída) e capta o olhar quase que instantaneamente de quem passa pelo bairro Centro Cívico. Para Juliana Vosnika, diretora da instituição, o desafio é fazer com que essa magnitude se torne um atrativo à população e aos turistas ao invés de uma barreira.

“Sei que há pessoas que nunca entraram em um museu porque acreditam que ele seja um tanto intimidador. Mas minha prioridade é ampliar o acesso ao público e democratizar a arte. Tenho a proposta de levar a arte para fora das salas expositivas para sensibilizar e convidar essas pessoas a nos visitarem”, diz à Bravo!.

O projeto “MON sem Paredes” é resultado dessa política – o museu leva esculturas interativas a uma praça vizinha de forma recorrente. Por enquanto, há duas obras de Arthur Lescher, “Giroscópico” e “Caleidoscópico”, uma obra de Rommulo Conceição, “Estruturas Dissipativas”, e duas obras de Narcélio Grud, “Trepa-Trepa” e “Sempre em Pé 01 e 02”. 

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Escultura de Joana Vasconceos nos jardins do museu (Marcello Kawase/ MON/divulgação)

 

Além desse, outros dois programas visam ampliar o acesso: o “MON Para Todos”, voltado para pessoas com deficiência com atendimento específico de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a gratuidade para todos às quartas-feiras. “Em 2023, batemos o recorde de visitação com 503 mil pessoas. É um número bem grande se você levar em conta a cidade de Curitiba. Como resultado, vimos que o crescimento de 2022 para 2023 foi de 25% e que 70% dos visitantes usufruíram da política de gratuidade”, revela Juliana.

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O momento do MON é promissor, já que seu acervo está sendo ampliado e alinhado com as discussões sobre diversidade que acontecem no circuito artístico. As artes africana, asiática e latino-americana entram em destaque. As exposições, por sua vez, reúnem nomes novos e consagrados da arte contemporânea. Um exemplo recente desta última categoria é a chegada de “Extravagâncias”, maior individual da artista portuguesa Joana Vasconcelos no país. Inaugurada este mês, a segunda fase da mostra apresenta instalações imersivas que questionam o estatuto da mulher, a sociedade de consumo e a identidade coletiva. Além de ocupar o Olho e diversos ambientes singulares abaixo dele, suas obras também podem ser vistas, pela primeira vez, no icônico túnel do museu.

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Mostra Traços e Trilhos – Poty 100 anos (Antônio More/MON/divulgação)

Quem visitar o espaço até o mês de setembro também se depara com trabalhos que comemoram o centenário de Poty Lazzarotto. Ao todo, são 500 obras que destacam sua importância para a cultura paranaense. “Ele foi o responsável por fazer com que muitas pessoas tivessem interesse pela arte”, enaltece a diretora. Já na exposição “Elizabeth Jobim – O Tempo das Pedras”, o visitante pode conferir mais de mais de 100 obras da artista, que explora diferentes superfícies, cores e materiais.

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Abaixo, veja a entrevista completa com Juliana Vosnika:

Qual é o momento do MON e o que esperar do museu no futuro?
Estamos vivendo um momento bem significativo pra nós porque tivemos, nos últimos anos, um crescimento grande de público. Em 2023, batemos o recorde de visitação com 503 mil pessoas. É um número bem grande se você levar em conta a cidade de Curitiba. O crescimento de 2022 para 2023 foi de quase 25%.

Também vale destacar que além de colecionar artes visuais, arquitetura e design, resolvemos priorizar algumas regiões do mundo e estamos dando mais destaque para a arte africana, a arte asiática e a arte latino-americana. Nós queremos ser acessíveis e populares. Desejamos que o museu seja melhor compreendido pelas pessoas e eliminar o receio que as pessoas têm de se deparar com obras de arte contemporânea. Pensando nisso, tem uma política de gratuidade muito significativa. Além disso, passamos a administrar uma praça próxima ao museu e criamos o projeto “MON Sem Paredes”, no qual levamos esculturas interativas para lá de forma recorrente. Por enquanto, estamos com duas obras do Arthur Lescher, uma obra do Romão Conceição e duas obras do Narcélio Grud.

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O MON é um dos cartões postais da cidade, mas é visitado por aqueles que, além de arte, também procuram um momento de descanso e bem-estar. Como o museu pode alcançar cada vez mais pessoas e como a arte pode trazer a sensação de respiro à cidade?
O museu é mais do que um espaço de arte. Ele é um dos grandes atrativos turísticos porque se tornou um ícone arquitetônico de Curitiba. Ele tem um ambiente aconchegante, com um parque em volta, um café e, claro, arte. Acho que o espaço é ideal para aquele momento de pausa, para se desligar de tudo o que acontece lá fora. Por isso, sempre tentamos ter exposições atraentes e diversificadas – de curta e de longa duração. A exposição da Joana Vasconcelos é um exemplo disso. Ela foi a primeira artista que ocupou o túnel do museu com obras. Essa iniciativa faz parte da ideia de romper com a temida sala expositiva e fazer com que a arte ocupe todo o local, da rampa aos corredores. Assim, as pessoas podem ter mais proximidade e sintonia com as obras.

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Juliana Vosnika, diretora do MON (Adalberto Rodrigues / MON/divulgação)

De que forma ele está se atualizando para acompanhar os movimentos do circuito artístico, como a discussão sobre diversidade, povos originários e ampliação da tecnologia?
Com a doação das coleções asiáticas e africanas, nós acabamos aprimorando esse olhar para os nossos povos originários. Há um ano e meio atrás, fizemos a primeira exposição de bancos indígenas em um museu no Brasil – é preciso lembrar que os indígenas são considerados os primeiros designers do país. Na coleção africana, temos uma programação para fazer ativações com diálogos com artistas afrodescendentes.

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Em relação à tecnologia, sabemos que as exposições imersivas têm sido mais destinadas a outros espaços que não sejam museus. Mas não quer dizer que não usamos esse recurso, já que ele veio para ficar. Estamos estudando, por exemplo, realizar mostras nesse estilo para popularizar nossos highlights. Inclusive, emprestamos 30 obras do Poty para a Caixa Cultural, que criou um QR Code que mostra os desenhos se movimentando. O resultado ficou super legal.

As obras de Joana Vasconcelos chamam atenção não só pela magnitude e pelas cores, mas também pela técnica. Por que é importante mostrar essas obras ao público?
Como o nome já diz, é extravagante. A ideia, inicialmente, era de trazer a “Valquíria Miss Dior”. Mas, pensando melhor, essa era uma oportunidade de atrair um público da moda, que não vem ao museu na proporção que gostaríamos. Até que a ideia cresceu e ocupou diversos espaços do MON, como o Olho, o túnel e uma sala que abriga diversas maquetes com obras icônicas da Joana. A exposição é muito importante porque a artista aborda a questão do feminino, além de fazer uma crítica social e política. Ela foi a primeira mulher a expor em Versalhes, na França – esse também é um protagonismo incrível. Na exposição, podemos encontrar obras com bastante densidade e beleza.

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obra de Joana Vasconcelos no Museu Oscar niemeyer (Marcello Kawase/ MON/divulgação)

Outra exposição inaugurada recentemente comemora o centenário de Poty Lazzarotto. De que forma o artista ajudou a construir a identidade cultural paranaense?
Pensar no Paraná é pensar em Poty Lazzarotto. Ele foi o responsável por fazer com que muitas pessoas tivessem interesse pela arte. Também foi muralista, desenhista, fez gravuras e suas obras podem ser divididas em vários períodos. Há desenhos inspirados no sagrado, outros inspirados nos povos originários e outros que retratam a identidade curitibana. Tanto que alguns trabalhos mostram bares da época, o trem e o dia a dia do “piá” curitibano. Poty chegou a desenhar histórias em quadrinhos, o que é bem interessante. Era um menino que gostava muito de cinema, um artista que queria levar a arte para todos os lugares. Na simplicidade do próprio desenho, ele conseguiu demonstrar todo o seu universo. Sinto que o artista inspirou e continua inspirando as pessoas, desde crianças até adultos.

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Mostra Traços e Trilhos – Poty 100 anos (Antônio More/MON/divulgação)

A próxima exposição a ser inaugurada remonta a trajetória artística de Elizabeth Jobim, uma artista conhecida por trabalhar com as cores. As cores se comunicam conosco e influenciam nosso cotidiano?
Elizabeth Jobim é uma representante da arte brasileira reconhecida pela sua participação na histórica exposição “Como Vai Você, Geração 80?”, no Parque Lage. De lá para cá, ela continuou produzindo demais. São diversas técnicas usadas em suas obras: óleo sobre tela, tecido sobre tela, nanquim – o que deixa seu trabalho muito rico. A cor acaba sendo uma consequência do processo artístico. A gente acredita que essa exposição é não só um passeio pela obra dela, mas também uma narrativa poética sobre o tempo e as nossas concepções. É uma mostra inspiradora.

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